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FÉ VENCE FRIO E CHUVA NA PROCISSÃO DO DESTERRO
2002-03-04 17:53:23

O frio e a chuva não arrefeceram a devoção das várias centenas de fiéis que ontem acompanharam a procissão em honra do Senhor Jesus dos Passos do Desterro, neste bairro de Lisboa.

Uma devoção que atingiu o clímax no momento em que as imagens de Nossa Senhora das Dores e de Cristo com a cruz às costas se encontraram, recordando esse passo da via-sacra. Só faltou o sermão, hoje já em desuso. A procissão do Desterro, a terceira da Quaresma (ver caixa), é uma das mais antigas da cidade, com cerca de quatro séculos. E desde sempre, uma procissão do povo, em contraponto com a da Graça, realizada uma semana antes, com “pergaminhos” aristocráticos. Hoje em dia, com quase um século de República, a rivalidade entre aristocratas e povo mantém-se, embora muito matizada e, por vezes, com aspectos verdadeiramente subtis.

Promessas

“As procissões da Graça e do Desterro são as únicas que se mantêm, dos cortejos saídos dos conventos, no caso desta última do mosteiro de São João do Desterro, hoje hospital do mesmo nome”, esclareceu junto do Correio da Manhã, Jorge Telles, professor e estudioso das tradições religiosas lisboetas, em particular da Quaresma. O cortejo religioso chama os fiéis do bairro, entre o Paço da Rainha, o Campo Mártires da Pátria e a Avenida Almirante Réis, mas um pouco de toda a cidade vêm também devotos, muitos com ramos de flores roxas, alguns no cumprimento de promessas. Janelas engalanadas com colchas. Gente que ajoelha e se benze à passagem das imagens, enquanto murmura orações. Atrás de um dos andores, um jovem de uniforme do Exército, em pagamento de uma promessa relacionada com a vida militar. Aqui e ali, mulheres idosas empunham velas acesas, em memória do auxílio divino nos momentos de aflição. No início do cortejo, oito crianças com as opas roxas, tal como os irmãos da Irmandade de Santa Cruz e Passos do Desterro, organizadora do envento, transportando os “martírios da Paixão”: o sudário com que Verónica enxugou o rosto de Cristo, o cálice onde foi recolhido o Seu sangue, os dados de jogo com que os soldados romanos disputaram a túnica de Jesus, a turquês, o martelo e os cravos, instrumentos com que pregaram o fundador do Cristianismo à Cruz, a lança do soldado Longuinhos, com que Jesus foi trespassado e título que Pilatos mandou pôr sobre a Cruz com a inscrição JNRJ (“Jesus de Nazaré Rei dos Judeus”) que tanto indignou estes. Depois, a banda da Sociedade Filarmónica Recreio Artístico da Amadora, junto ao andor de Nossa Senhora das Dores.

A cruz de Cristo

A fé popular levou, ainda, a que muita gente se concentrasse junto aos andores, no desejo de seguir o mais de perto possível as imagens dos santos da sua particular devoção. Sob o pálio, levado pelos membros da Irmandade, participou no cortejo D. Tomás Nunes, Bispo Auxiliar do Patriarcado de Lisboa, levando consigo a relíquia do Santo Lenho, relembrando a cruz em que Cristo morreu. Aqui e ali, deslumbrados com o colorido e a devoção populares, vários imigrantes do Leste aproveitavam para se fazerem fotografar com a procissão e as imagens por pano de fundo, uma recordação para mandarem às suas famílias, em terras de Igreja Ortodoxa... A Fanfarra do Comando Metropolitano de Lisboa, fechou o cortejo, executando o reportório de marchas solenes adequadas à quadra. O sermão depois da procissão, uma reflexão sobre o sentido da Quaresma e da Semana Santa que se aproxima na vida dos cristãos, a que se seguiu a bênção dos presentes com a relíquia do Santo Lenho, encerraram as Festas em Honra do Senhor dos Passos, levadas a cabo pela Irmandade de Santa Cruz e Passos do Desterro.

Fonte CM

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