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Resposta oficial do Metropolita Kondrusiewicz ao Sínodo Ortodoxo
2002-02-17 21:37:06

Resposta oficial do Metropolita Kondrusiewicz ao Sínodo Ortodoxo
Moscou (Fides) – A Agência Fides recebeu do arcebispo Kondrusiewicz uma declaração oficial, solicitando que fosse divulgada. A nota trata da controvérsia com o Patriarcado de Moscou e o Sínodo ortodoxo russo, ocorrida depois da elevação das administrações apostólicas russas à dioceses.


A INGERÊNCIA DAS QUESTÕES INTERNAS DA IGREJA CATÓLICA NA RÚSSIA CONTINUA

Declaração do metropolita Tadeusz Kondrusiewicz

Considerando que:
as comunidades religiosas têm o direito de auto-organização de acordo com suas próprias estruturas hierárquicas e institucionais;
o dever do Pontífice e dos bispos da Igreja Católica é o de criar condições normais para a assistência pastoral dos fiéis;
a estrutura normal da Igreja Católica segundo o direito canônico é a diocese e a metropolia (província eclesiástica);
a elevação das Administrações Apostólicas russas à condição de dioceses permanentes, ocorrida em 11 de fevereiro de 2002, não infringe a legislação russa vigente;
este passo, necessário para os católicos da Rússia, foi realizado segundo a prática internacional comum, informando as autoridades e a hierarquia da Igreja Ortodoxa Russa,
expressamos nossa perplexidade e séria preocupação por causa da ingerência nas questões internas da Igreja Católica na Rússia, que nos últimos dias tornou-se sempre mais evidente.
Estamos convencidos que os católicos da Federação Russa gozam dos mesmos direitos dos cidadãos que confessam outras religiões, e o uso legítimo de tais direitos não deve ser colocado publicamente em dúvida por nenhum motivo, e nem deve ser objeto de especulações políticas.

2. Consideramos nosso dever refutar publicamente as afirmações não correspondentes a verdade contidas na declaração pública do Patriarca de Moscou e de todas as Rússias, Alexis II e do Santo Sínodo da Igreja Ortodoxa Russa de 12 de fevereiro de 2002.

3. Na declaração afirma-se que a forma instituída na Rússia “da vida eclesiástica católica não é típica nem mesmo dos países católicos, onde habitualmente não existem províncias eclesiásticas nas quais as dioceses sejam realmente administradas por um metropolita”.
Tal afirmação não corresponde a verdade. O Código do Direito Canônico da Igreja Católica estabelece que para a colaboração com a atividade pastoral comum de diversas dioceses vizinhas, e para um bom desenvolvimento das necessárias relações entre os bispos diocesanos, as dioceses vizinhas sejam unidas pela suprema autoridade eclesiástica em províncias eclesiásticas – metropolias (cfr. Can. 431).
Na chefia da metropolia está o metropolita, que é arcebispo da arquidiocese por ele presidida. Este cargo é ligado à cátedra episcopal, determinada pelo Sumo Pontífice Romano (cfr. Can. 435). Existem metropolias nos mais variados países: Paris, Washington, Praga, Milão, Varsóvia (apenas na Polônia existem 13), e atualmente existem também em países da ex-Urss: Riga, Minsk-Mogilev, Vilnius, Kaunas, Lvov.
As outras dioceses compreendidas em uma província eclesiástica são chamadas de “dioceses sufragâneas”. A autoridade do metropolita sobre suas questões é definita pelo direito canônico:
vigiar sobre fé e a disciplina eclesiástica, e informar o Pontífice romano sobre os abusos (cfr. Can. 436 par.1);
com o consentimento da Sede Apostólica, efetuar a visita canônica no caso em que o bispo da diocese sufragânea a subestime (cfr. Can. 436 par.1);
nomear o administrador da cátedra episcopal vaga, no caso da nomeação não ter sido realizada em até 8 dias (cfr. Can. 436 par.1);
o metropolita não possui outras faculdades nas dioceses sufragâneas (cfr. Can. 463 par.3).

4. Na declaração dos hierarcas da Igreja Ortodoxa Russa afirma-se também que “não existia nenhuma subdivisão do território da Rússia em dioceses”.
Gostaríamos de recordar que:
as estruturas diocesanas da Igreja Católica existiam no sul da Rússia já nos séculos XIV-XV, e nos séculos XVII-XVIII funcionava a diocese de Smolensk;
o centro da metropolia de Mogilev era a capital do Império russo, Petesburgo, enquanto a diocese de Tiraspol tinha base em Saratov. Além disso, em 1923 foi instituída a diocese de Vladivostok. O Arcebispo de Mogilev era chamado metropolita de todas as igrejas católicas do império russo;
desde a criação da metropolia de Mogilev até o último metropolita Jan Cepljak, condenado a morte em 1923 com conseqüente expulsão do país, a cátedra de Petesburgo foi ocupada por 27 hierarcas;
também no território da atual região de Kaliningrad existiam estruturas da Igreja Católica;
deste modo, entre os atuais confins da Federação Russa existiam dioceses católicas, uma metropolia com os próprios metropolitas e dioceses sufragâneas.

5. Levando em conta o que foi exposto acima, afirmamos que a mudança do status das estruturas da Igreja Católica na Rússia e a instituição da província eclesiástica não pode ser vista como a criação de uma estrutura católica nova, paralela à Igreja Ortodoxa Russa.
Em primeiro lugar, as dioceses não tomam a própria denominação das cidades onde têm suas sedes. Não existe um metropolita de Moscou ou russo, mas existe um metropolita em Moscou.
Em segundo lugar, na Igreja Ortodoxa Russa existe, por exemplo, o metropolita de Vilnius e da Lituânia, o Arcebispo de Bruxelas e da Bélgica, de Berlim e da Alemanha, e ninguém da Igreja Católica levanta objeções, já que os títulos de metropolita são questão interna da Igreja Ortodoxa, que nomeia seus pastores segundo suas próprias necessidades.
Em terceiro lugar, o metropolita não tem qualquer poder real nas outras dioceses, enquanto estas são autônomas e administradas pelos próprios bispos.

6. Na declaração citada está repetida a reprovação sobre os inúmeros episódios de atividade missionária do clero católico entre a população russa. “Consideramos esta atividade como proselitismo, e, para nós, tal atividade é um dos obstáculos principais para melhora das relações entre nossas Igrejas”, diz o documento.
Nós, de nossa parte, no curso dos últimos 11 anos solicitamos várias vezes aos hierarcas da Igreja Ortodoxa Russa que conduzissem o debate sobre coisas concretas e finalmente avaliassem fatos concretos de proselitismo dos católicos na Rússia. Gostaríamos de saber quem, onde, quando, em quais circunstâncias foi protagonista ou é protagonista atualmente de ações de proselitismo. Infelizmente, não nos foi dado conhecer nada sobre o assunto, como não houve resposta ao nosso convite de reunião para precisar o significado do termo “proselitismo”…

7. Não obstante a tensa situação criada nas relações entre a Igreja Católica e a Igreja Ortodoxa Russa, espero e rezo a Deus para que o diálogo continue e tenha frutos. Estou convencido que a Igreja Católica e a Igreja Ortodoxa podem responder juntas aos desafios de nosso tempo pelo bem da civilização.

Metropolita Tadeusz Kondrusiewicz,
Moscou, 13 de fevereiro de 2002

Declaração divulgada pelo Centro de Informações
da Conferência dos bispos católicos da Federação Russa.
Referência obrigatória.


Fonte Ecclesia

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