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Sobe de Tom a "Guerra Fria" Entre Ortodoxos e Católicos
2002-02-15 18:21:40

O Patriarcado de Moscovo da Igreja Ortodoxa Russa (IOR) ficou indignado com a decisão do Papa João Paulo II de criar uma província e quatro dioceses católicas em território russo e respondeu com a ruptura temporária de relações entre as duas confissões cristãs.



"Não é possível a visita de Sua Eminência a Moscovo nos prazos anteriormente acordados." Foi com estas palavras que o metropolita Kirill, em nome da IOR, comunicou ao Vaticano a suspensão "sine die" da visita à capital russa do cardeal Walter Casper, presidente do Conselho Papal para a unidade cristã, marcada para finais de Fevereiro.

A explicação para semelhante retaliação da parte da hierarquia ortodoxa russa em relação à Igreja Católica Romana está claramente expressa na mesma missiva: "Trata-se de uma reacção legítima face aos passos unilaterais do Vaticano com vista à criação de uma estrutura centralizada da Igreja Católica na Rússia, dados a despeito das posições da IOR."

O cardeal Walter Casper deveria visitar a capital da Rússia no fim do mês para dar continuação ao diálogo com os ortodoxos russos e o arcebispo Tadeusz Kondrusiewicz, chefe da Igreja Católica na Rússia, não esconde que a questão central das conversações seria a possibilidade da visita do Sumo Pontífice à Rússia: "O Papa gostaria de vir. Sei que se lhe dessem 'luz verde', estaria aqui amanhã."

Parece ser precisamente neste ponto que reside a origem do brusco resfriamento nas relações entre as duas igrejas cristãs. A criação de uma província e de quatro dioceses católicas, anunciada no passado dia 11, em território russo foi apenas um pretexto que chegou na hora certa para os altos dignitários da IOR justificarem a suspensão do diálogo com o Vaticano.

A Igreja Ortodoxa Russa, que se comprometeu seriamente com a sua colaboração com o regime comunista, nomeadamente com a polícia secreta KGB, não conseguiu conquistar as almas dos russos depois da queda do regime ateu na Rússia.

Quando surgiram possibilidades de actuar livremente, a hierarquia ortodoxa russa preferiu exigir das autoridades laicas o estatuto de "religião de Estado" a pretexto de travar a "onda de proselitismo" das seitas e religiões "estranhas ao povo russo", entre as quais está a Igreja Católica Romana, e defender "o território canónico da IOR". Além disso, vai-se aproveitando das facilidades fiscais para ganhar fundos com o comércio de vodka e tabaco.

A Igreja Católica, pelo contrário, não se comprometeu com o regime comunista soviético e, actualmente, possui meios intelectuais e financeiros para alargar as suas actividades na Rússia.

O arcebispo Tadeusz Kondrusiewicz tenta acalmar a hierarquia da IOR: "São infundados os receios de que os russos se convertam em massa ao catolicismo", garante. Mas a verdade é que alguns sectores mais conservadores da Igreja Católica não perderam a esperança de "converter a Rússia".

O Vaticano considera que a visita do Papa João Paulo II à Rússia, um dos maiores sonhos do Sumo Pontífice, poderia dar um forte impulso ao diálogo e à aproximação das duas igrejas cristãs, mas o Patriarcado de Moscovo teme perder a corrida pelas almas dos russos e fecha-se.

As autoridades laicas russas também foram colocadas numa situação delicada. Vladimir Putin, Presidente da Rússia, não esconde o seu desejo de receber João Paulo II no Kremlin, mas não pretende fazer isso contra a vontade da IOR.

Por isso, neste conflito, o Ministério dos Negócios Estrangeiros da Rússia tomou uma posição salomónica: "Não pondo em causa o direito da Igreja Católica de se organizar em conformidade com o Direito Canónico, mas tendo em conta que esta questão diz principalmente respeito às relações entre igrejas e pode ser a causa de uma série complicação, recomendamos a Santa Sé a suspender a transformação de administrações apostólicas em dioceses e a resolver o problema com a IOR."

O arcebispo Tadeusz Kondrusiewicz vê-se obrigado a recorrer à linguagem da diplomacia laica para justificar a continuação do diálogo entre católicos e ortodoxos: "É melhor uma paz má do que uma boa guerra.

Fonte Público

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