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Balada da Paz
2002-01-26 21:45:38

Há imagens e atmosferas que se nos colam definitivamente à memória. Mais que uma visão ligeira são um olhar profundo que não deixa a alma sossegada, ainda que de paz se trate.

É pena que os gestos repetidos, por mais belos que sejam, corram o risco de esmorecer na sua significação e escorram para o terreno arenoso da rotina.
Estou, obviamente, a reportar-me a 1986 e à subida à colina de Assis por homens e mulheres que, mais que líderes religiosos, encarnavam o peso e a alegria de um sacerdócio ou, se quisermos, o jugo suave de tantos crentes de tantos recantos do planeta.
Foi uma experiência de Deus quase materializada nos raios de sol que nessa tarde faziam um poente majestoso no saboroso vale da Úmbria, tornando Assis mais que nunca visível e humildemente empolgante como cidade da Paz.
Neste início de milénio a convocação para uma nova jornada de Assis tem outro contexto: a cara com que ficou o mundo a seguir ao onze de Setembro, as dúvidas e incertezas que pairaram sobre todas as seguranças do mundo, a necessidade de, uma vez por todas, não invocar o Nome de Deus em vão, nem utilizá-lO como instrumento político, lógico, teológico ou cultural. Deus não é uma peça utilizável pelo homem nos seus pequenos - grandes jogos. E as Religiões precisam ser claras nessa matéria.
É, pois, num contexto dramático que surge este encontro, ele próprio já embrulhado em jogos de prestígio tão comuns em gente do poder, inclusive, religioso. Assis é evocada de novo como a grande balada da Paz onde se possa dizer as palavras impossíveis e esboçar os gestos que não sejam aprisionados por nenhum sistema ou máquina religiosa. É que, ao falar-se de religião, Deus sai muitas vezes maltratado quer pelos prosélitos quer pelos indiferentes. Um lugar habitado por Francisco Bernadone pode reacender no coração de muitos desiludidos a urgente balada da Paz.

António Rego


Fonte Ecclesia

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