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Que futuro para o Ecumenismo?
2002-01-08 23:15:00

O Jubileu atirou-nos para os braços de Jesus Cristo que, segundo João 17,4, pediu ‘ que todos sejam um’. Neste contexto Jubilar, João Paulo II publicou três textos de referência: ‘Às Portas do Terceiro Milénio’ (1994) ‘O Mistério da Encarnação’ (1998), bula de proclamação do grande Jubileu, e ‘À Entrada do Terceiro Milénio’(2001). Em todos eles o Ecumenismo tem lugar cativo.


‘Às Portas do Terceiro Milénio’, nos nºs 52 a 55 fala do diálogo ecuménico e inter-religioso, avançando já com a ideia de um encontro ‘pan-cristão’, que o Papa considera de grande valor. Em ‘O Mistério da Encarnação’, João Paulo II marca a data da abertura da Porta da Basílica de S.Paulo, em Roma, para o dia 18 de Janeiro de 2000, ‘início da Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos para, deste modo, sublinhar também o carácter ecuménico peculiar que este Jubileu possui’. Como nos recordamos, esta porta foi aberta por líderes máximos das grandes Igrejas. Finalmente, ‘À Entrada do Terceiro Milénio’ faz o balanço pós-Jubileu e manda fixar o olhar em Jesus Cristo. O ‘Faz-te ao largo’ aparece como síntese a dar o tom aos compromissos dos cristãos para este terceiro milénio. O nº 48 é todo ele sobre o compromisso ecuménico, onde se remete para o cultivo do diálogo entre cristãos e de iniciativas solidárias que ajudarão a cantar a uma só voz: ‘ Como é bom e agradável viverem os irmãos em harmonia’(Sl 133,1).

A Semana da Unidade
O caminho do Ecumenismo já vem de longe, dos inícios do século XX. A Semana da Unidade começou em 1935 e, desde 1968, a elaboração dos temas e a preparação dos materiais deve-se à colaboração entre a Comissão Fé e Ordem, do Conselho Mundial das Igrejas e o Conselho Pontifício para a promoção da Unidade dos Cristãos. O caminho rumo à unidade vai-se construindo ano após ano, um caminho que se faz a andar. Os teólogos vão reflectindo e os cristãos vão-se comprometendo em causas como a justiça, paz, ecologia, solidariedade.

Assembleias Ecuménicas
da Europa
A cidade de Basileia, na Suíça, acolheu em 1989 a 1ª Assembleia Ecuménica da Europa que teve por tema ‘Justiça, Paz e Integridade da Criação’. Este caminho tornou-se imparável. Em 1997, coube à cidade de Graz, na Áustria, a realização da II Assembleia com o tema ‘Reconciliação, dom de Deus e fonte de vida nova’. Participei como delegado da CNIR pude sentir como já há muito caminho feito e como é urgente dar passos mais largos rumo á unidade. A Carta Ecuménica com as linhas directrizes para uma colaboração crescente entre as Igrejas da Europa, publicada em Abril de 2001 constitui mais um passo de gigante. Participar na construção da Europa, em comum, é o maior desafio que esta Carta lança aos cristãos.
Em Portugal também se vai fazendo algum caminho. D. Jorge Ortiga, Arcebispo de Braga, na revista ‘LUMEN’ de Nov.Dez 1997, faz um balanço do Ecumenismo que se vive em Portugal. Para além da Semana da Unidade, há encontros frequentes entre representantes das Igrejas Cristãs. Graz veio dar mais força ao Ecumenismo e o resultado mais palpável está à vista no planeta jovem.

Fóruns Ecuménicos Jovens
‘Ecumenismo – desafio para os jovens cristãos’ foi o tema do I Fórum Ecuménico Jovem (FEJ 99) que teve lugar em Leiria em 1999, como resposta aos apelos de Graz. Das propostas finais, destaco: - os jovens cristãos comprometem-se a escutarem-se e dialogar sem preconceitos, valorizando o pluralismo da diferença; a apostar numa formação em ordem à descoberta de si e do outro; - a desenvolver acções conjuntas em favor da justiça, da paz e integridade da criação; a tirar mais partido do que temos, partilhando os materiais disponíveis para a pastoral juvenil; - a colaborar entre si, a nível das comunidades locais, partilhando actividades; a promover, dentro das possibilidades, fóruns de partilha a nível local e regional’.
Lisboa acolheu o FEJ 2000 com o lema ‘Felizes os que constroem a Paz’. O Manifesto 2000, da UNESCO, deu tema aos grupos e a assinatura de uma faixa levou os jovens a comprometerem-se na busca da paz.
‘Uma Cultura de Serviço’ foi o tema do FEJ 2001, em Gaia. Ali a aposta foi para workshops sobre acções concretas na área da solidariedade social: compromissos nas áreas da Saúde mental, ambiente, migrantes, exclusão social, trabalho missionário, dependências, solidão e pobreza foram alvo de partilha e de apelo a acções ecuménicas.
Os FEJ’s abriram outras frentes: a da Oração Ecuménica Jovem e a dos Campos de Trabalho Ecuménico. Assim, houve orações em Lisboa e Porto no ano 2001 e estão programadas Vigílias Jovens para Lisboa, Porto e Braga no dia 19 de Janeiro. No Verão de 2001, na Casa de Saúde do Telhal, teve lugar o I Campo de Trabalho Ecuménico. Em 2002 vai organizar-se uma Peregrinação Ecuménica a Taizé.

Ecumenismo hoje: algumas sugestões
Há caminhos que só serão abertos pelos teólogos e pelas hierarquias. Aí só nos resta rezar e ‘empurrar’ para que andem para a frente e não parem em questões de pormenor. Mas há outros caminhos que estão à frente de todos, sem minas nem armadilhas, à espera de pés que os palmilhem. Avanço algumas propostas concretas:
- Rezar pela Unidade dos Cristãos como rezamos por tantas outras intenções e rezar juntos pela paz, pela justiça, pela integridade da criação.
- Mudar discursos anti-cristãos sobre outros cristãos, outras Igrejas, outras Religiões.
- Realizar encontros inter-eclesiais de cristãos a viver no mesmo espaço geográfico.
- Celebrar em comum festas que constam de todos os calendários litúrgicos cristãos.
- Construir e realizar projectos de solidariedade em comum com cristãos de outras Igrejas.
- Investir mais em ONGD’s que apostem em projectos de desenvolvimento.
- Promover campanhas em favor de grandes causas da humanidade: perdão da dívida aos países pobres, contra a pena de morte, contra as minas, contra as armas ligeiras...
- Participar em plataformas de intervenção em favor dos direitos humanos.
- Lançar iniciativas em favor dos excluídos, dos imigrantes, dos sem-abrigo, dos toxicodependentes e dos pobres em geral.
- Pugnar por valores humanos, fraternos e cristãos no mundo da política, do trabalho, do desporto, da cultura, da educação, da saúde, da sociedade.
- Combater todas as formas de pobreza e marginalização social.

Se o Jubileu foi um grito por mais justiça, mais paz, mais espaço para os valores do Evangelho, o Ecumenismo teve que sair reforçado deste ano 2000. A mudança de mentalidades, discursos e compromissos deve estar a acontecer. Para bem de todos.

Tony Neves


Fonte Ecclesia

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