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Papa Quer Perdão nas Relações Internacionais
2002-01-02 12:31:46

O Papa João Paulo II defende, na sua mensagem para o Dia Mundial da Paz, 1 de Janeiro de 2002, a ideia do perdão nas relações internacionais.

Com o título "Não há paz sem justiça e não há justiça sem perdão", o Papa analisa a actual situação do mundo, a partir dos acontecimentos de 11 de Setembro. Condenando firmemente o terrorismo, João Paulo II vai ao ponto de dizer que "nenhum responsável das religiões pode ser indulgente para com o terrorismo" e que "é profanação da religião proclamar-se terrorista em nome de Deus".

O Papa Wojtyla não deixa de fora um apelo "a toda a humanidade e de modo particular aos chefes das nações", para que se reflicta "sobre as exigências da justiça e sobre o apelo ao perdão diante dos graves problemas que continuam a afligir o mundo, dos quais, não por último, o novo nível de violência introduzido pelo terrorismo organizado".

Para defender a ideia do perdão, João Paulo II diz que este completa a justiça, "sempre frágil e imperfeita, porque exposta como tal às limitações e aos egoísmos pessoais e de grupo". O perdão vai mais à frente: "Cura as feridas e restabelece em profundidade as relações humanas transtornadas", afirmação que "vale tanto para as tensões entre os indivíduos, como para as que se verificam em âmbito mais alargado e mesmo as internacionais". O perdão "não se opõe de modo algum à justiça, porque não consiste em diferir as legítimas exigências de reparação da ordem violada; mas visa sobretudo aquela plenitude de justiça que gera a tranquilidade da ordem, a qual é bem mais do que uma frágil e provisória cessação das hostilidades".

Ao advogar o perdão como atitude fundamental, João Paulo II diz que ele não é uma alternativa à justiça. "O perdão opõe-se ao rancor e à vingança, não à justiça." Há um direito à defesa perante o terrorismo, mas ele deve, "como qualquer outro, obedecer a regras morais e jurídicas na escolha quer dos objectivos quer dos meios".

O Papa apresenta mesmo os requisitos para que isso se faça: a culpa dos acusados deve ser provada, "porque a responsabilidade penal é sempre pessoal, não podendo por isso ser estendida às nações, às etnias, às religiões a que pertencem os terroristas". É necessária a colaboração internacional ao nível político, diplomático e económico e a resolução de "eventuais situações de opressão e marginalização que estejam na origem dos objectivos terroristas".

Na mensagem - que antecipa o encontro de representantes de todas as religiões, convocado pelo Papa para Assis, no próximo dia 24 de Janeiro -, João Paulo II exorta ainda as famílias, os grupos, os estados, a comunidade internacional" a abrirem-se "ao perdão para restaurar os laços interrompidos, superar situações estéreis de mútua condenação, vencer a tentação de excluir os outros, negando-lhes a possibilidade de apelo".

Será mesmo a capacidade de perdão, acrescenta, que "está na base de cada projecto de uma sociedade futura mais justa e solidária". Ao contrário, "a falta de perdão, especialmente quando alimenta o prolongamento de conflitos, supõe custos enormes para o desenvolvimento dos povos" tendo em conta a corrida aos armamentos, as despesas de guerra, as consequências das represálias económicas. "Quantos sofrimentos padece a humanidade por não saber reconciliar-se, e quantos atrasos por não saber perdoar! A paz é a condição do desenvolvimento, mas uma verdadeira paz torna-se possível somente com o perdão."

O Papa acaba assim a defender "uma ética e uma cultura do perdão" que conduzam também a uma "política do perdão" que se expresse "em comportamentos sociais e instrumentos jurídicos, nos quais a própria justiça assuma um rosto mais humano". A própria experiência pessoal deve levar a fazer aos outros o mesmo que cada um deseja para si quando comete o mal: a indulgência. "Cada ser humano abriga dentro de si a esperança de poder retomar o percurso da vida sem ficar para sempre prisioneiro dos próprios erros e culpas."

A proposta do perdão, admite o Papa, é paradoxal, implica uma aparente perda a curto prazo, mas garante o ganho a longo prazo, ao contrário do que sucede com a violência. "À primeira vista, o perdão poderia parecer uma fraqueza, mas não: tanto para ser concedido quanto para ser aceite, supõe uma força espiritual e uma coragem moral a toda a prova. Em vez de humilhar a pessoa, o perdão leva-a a um humanismo mais pleno e mais rico, capaz de reflectir em si um raio do esplendor do Criador."

Fonte Público

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