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A identidade do Bispo Pós-Sinodal
2001-12-15 22:39:52

Os pareceres do Prefeito da Congregação para as Causas dos Santos sobre os trabalhos sinodais e as suas consequências


Agência ECCLESIA - Como está a viver os trabalhos sinodais?
Cardeal D. José Saraiva Martins - Plenamente consciente da enorme importância desta 10ª Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos para a Igreja de hoje. Em primeiro lugar, trata-se da primeira Assembleia sinodal do novo Milénio, depois do grande acontecimento jubilar apenas encerrado. Acrescente-se o facto que na última década do século XX os bispos dos vários Continentes foram convocados pelo Papa em diversas Assembleias sinodais especiais para tratar da Igreja em cada um desses Continentes. Esta Assembleia ordinária pode assim beneficiar da experiência de um período particularmente rico e intenso de comunhão sinodal. Note-se que é a primeira vez que tal acontece na História da Igreja.
A grande importância da actual Assembleia sinodal deriva, em segundo lugar, do próprio tema que os Padres são chamados a tratar: “O bispo, servidor do Evangelho para esperança do mundo”. Um tema de indiscutível actualidade no hodierno contexto da Igreja e do mundo, quer a nível doutrinal e pastoral, quer a nível antropológico e social. O problema de fundo que os Padres se põem e a que vão procurar dar uma resposta adequada é o seguinte: como anunciar ao homem de hoje, cada vez mais secularizado, o Evangelho da esperança? Da resposta a esta pergunta dependerá, em grande parte, o futuro da missão da Igreja.

AE -Como será o bispo post-sinodal?
JSM - O bispo post-sinodal vai ser o que sempre foi: o servidor do Evangelho. Esta é a sua identidade, a sua razão de ser. Como sucessor dos Apóstolos, o bispo foi consagrado para proclamar o Evangelho da esperança, fazendo-o, não apenas com a palavra, mas também com o testemunho da sua vida, pois o homem contemporâneo prefere dar ouvidos a testemunhas mais que a mestres e, se os dá a estes, é porque dão testemunho” (EN, 41). Mais que um administrador ou um líder, os fiéis querem ver no seu Pastor uma verdadeira testemunha de quanto ensina.
Não há dúvida porém que o Pastor post-sinodal deve ter, para que o seu ministério episcopal seja incisivo e eficaz, algumas características fundamentais e, portanto, irrenunciáveis.
Antes de mais, o bispo do terceiro Milénio deve estar profundamente convicto que “a perspectiva, em que deve colocar-se todo o caminho pastoral da Igreja, é a santidade” e que, por conseguinte, “indicar a santidade torna-se cada vez mais uma urgência pastoral” (NMI, 30). Isso comporta, para ele, um forte testemunho de santidade pessoal. “Ut sanctum Populum Dei regat, sanctum episcopum esse opportet”. Só assim ele será, para os seus fiéis, o sacramento da santidade d’Aquele que é “três vezes santo”, a transparência do amor de Deus, a ícone do amor de Cristo Bom Pastor no meio do seu povo. Só assim será verdadeiro servidor do Evangelho e eficaz semeador de esperança para o homem contemporâneo.
O bispo de hoje deve, além disso, viver em profundidade uma autêntica espiritualidade de comunhão, amar com paixão o Mistério de Cristo e da Igreja e se dócil à voz do Espírito, que fala também por meio dos fiéis confiados às suas curas pastorais.
A caridade pastoral do Pastor exige que tenha um estilo e formas de vida que, à imitação de Cristo, pobre e humilde, lhe permitam estar o mais perto possível de todos os membros da comunidade cristã, do maior ao mais pequeno, “para partilhar as suas alegrias e os seus sofrimentos, não só com o pensamento e a oração, mas também na proximidade com eles” (IL, 119)
O bispo post-sinodal deve, enfim, para tornar cada vez mais eficaz o seu ministério, renovar a sua linguagem, tornando-a cada vez mais acessível ao homem de hoje, e utilizar no anúncio do Evangelho os meios de comunicação social, que são uma “versão moderna e eficaz do púlpito”, como dizia Paulo VI (EN, 45).
Eis a identidade ou identikit do bispo post-sinodal.

AE -Depois de tantas reflexões sobre a “nova Evangelização”, porque só agora este tema chega ao debate do ministério episcopal?
JSM - O exame do ministério episcopal em sede sinodal chega, a meu ver, no momento certo. As últimas Assembleias sinodais ordinárias trataram, sucessivamente, da vocação e missão dos leigos na Igreja e no mundo (1987), da formação dos sacerdotes nas circunstâncias actuais (1990) e da vida consagrada e sua missão na Igreja e no mundo (1994). Faltava uma reflexão sinodal aprofundada sobre os bispos e o seu ministério no contexto actual da Igreja e na sociedade do nosso tempo. É precisamente este tema que a presente Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos está a tratar.

AE - Até que ponto os conflitos internacionais afectam o decorrer dos trabalhos sinodais?
JSM - Os conflitos internacionais que de um mês a esta parte enchem as páginas dos órgãos da imprensa de todo o mundo têm e não têm repercussão nos trabalhos do Sínodo. É óbvio que esses acontecimentos afectam a esperança dos homens e mulheres do nosso tempo, no presente e no futuro. Sendo o Sínodo chamado a reflectir sobre a forma de servir a esperança, não podem os Padres sinodais estar alheios às ansiedades que os rodeiam. Mas se esses acontecimentos afectam o ritmo do trabalho, isso não. Os trabalhos sinodais processam-se com normalidade, sem ceder a certos alarmismos, por vezes exagerados, de alguns órgãos de informação.


Fonte Ecclesia

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