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Patriarca Pede Respeito pela Liberdade no Mundo Islâmico
2001-11-02 15:30:18

O cardeal-patriarca de Lisboa, D. José Policarpo, afirmou ontem que os líderes políticos e religiosos do islão devem dar "sinais de esperança, sinais de respeito pela liberdade de consciência, pela liberdade cultural e religiosa" nos países onde aquela religião é maioritária.

O patriarca acrescentou que tem dito aos líderes islâmicos em Portugal, com quem já esteve em contacto telefónico, que "é mais fácil dialogar entre cristãos e muçulmanos" na Europa do que nos países de maioria islâmica.

D. José falava ontem num encontro com jornalistas, convocado para fazer o balanço do Sínodo dos Bispos que terminou sábado, no Vaticano. Mas, apesar das observações sobre o islão, o patriarca disse que a Igreja Católica continua a "promover o diálogo inter-religioso", não se deixando encerrar na ideia de um "ocidente cristão".

Hoje, "a zona de implantação do cristianismo é o mundo, mesmo que seja apenas como semente de esperança", disse o patriarca, e essa é "a diferença em relação à época das cruzadas". E a Igreja pretende continuar a trabalhar com os "irmãos muçulmanos" nas "verdadeiras lutas pela dignidade da pessoa humana, sobretudo pela dignidade da mulher". Até porque, acredita José Policarpo, "a mulher muçulmana terá uma palavra importante a dizer neste caldear de uma nova ordem mundial".

Na perspectiva da colaboração com outras comunidades, D. José anunciou que o patriarcado está a estudar com a Comunidade Ismaili de Lisboa uma iniciativa comum na área social, que será anunciada brevemente. E recusou, na intervenção inicial, que os acontecimentos de 11 de Setembro se situem numa linha de confronto de religiões. "Sem deixar de ter o seu fundo de objectividade, é perigosa esta grelha de análise, sobretudo se for exclusiva."

Sem deixar de exprimir um olhar de esperança sobre a realidade e o futuro do mundo, o patriarca mostrou-se, mesmo assim, preocupado com a situação actual. Na sua intervenção de fundo, privilegiou a leitura do modo como os acontecimentos pós-11 de Setembro influenciaram o ambiente e os trabalhos que decorreram na sala sinodal., cujo tema era precisamente a missão do bispo no mundo contemporâneo.

"A preocupação palpável no rosto do Papa, a presença do cardeal arcebispo de Nova Iorque", que era o relator da assembleia e por duas vezes abandonou os trabalhos, "para estar com a sua Igreja"; a presença do bispo de Carachi, no Paquistão, que abandonou os trabalhos, logo no início, para estar com a sua comunidade; a visita inesperada ao Papa do pai do Presidente Bush, o ex-Presidente George Bush"; a comemoração no dia 11 de Outubro, um mês depois dos atentados em Nova Iorque e Washington, "em que o Sínodo se transformou em assembleia de oração densa e confiante"; "o início das actividades militares no Afeganistão e os contínuos apelos do Papa à paz" foram sinais de que a assembleia dos cerca de 280 bispos e cardeais de todo o mundo ficou marcada pela crise internacional.

Além do islão e do diálogo inter-religioso, D. José referiu-se ainda às análises que situam os acontecimentos "no contexto da globalização da pobreza, acabando com a visão bipolar do mundo". E citou o presidente do Banco Mundial, James Wolfensohn: "Os dois mundos desapareceram. Hoje há só um mundo. (...) O tema da desigualdade entre os ricos e os pobres não é um tema que se possa continuar a evitar. (...) Enquanto existir pobreza, os ricos não terão paz."

Já no final, o patriarca referiu-se às leituras que vêem nos atentados terroristas de dia 11 de Setembro o "resultado das religiões". "Foram vozes isoladas, é certo, mas chocantes num contexto de grande densidade existencial", observou. Para afirmar depois que os homens de cultura devem reconhecer "que a maior parte da cultura da humanidade, desde os mais remotos tempos, foi inspirada pelas diversas religiões". E concretizou: "Sem as religiões, a história cultural da humanidade esvanecer-se-ia no vácuo. A fé religiosa inspirou as mais significativas expressões de beleza ao longo da história. E como se pode esquecer a força inspiradora de amor fraterno, dedicação ao próximo que sofre, que a fé religiosa, de modo particular a fé cristã, foi ao longo dos séculos?"

Fonte Público

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