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Impérios do consumo também rezam missa
2001-10-28 11:19:47

Fazer compras, ir ao cinema, comer ou descansar numa esplanada. Pode-se fazer quase tudo num centro comercial. Nas Amoreiras e no Colombo, duas importantes "catedrais" do consumo de Lisboa, pode-se até rezar, ir à missa, frequentar a Escola de Leigos, casar ou baptizar um filho. Curiosamente, nem todos os visitantes se apercebem da existência das capelas, estrategicamente colocadas à entrada destes centros comerciais, cada uma com cerca de uma centena de lugares sentados.

A capela das Amoreiras nasceu com o próprio centro comercial, em 1985, provocando um grande impacto arquitectónico na cidade, pela mão do arquitecto Tomás Taveira. O espaço religioso é perfeitamente autónomo.
No Colombo, centro cuja decoração retrata a época dos Descobrimentos, o espaço da capela foi cedido gratuitamente. A Igreja apenas assume os encargos com a electricidade, telefone e manutenção das instalações, e depende da paróquia de Benfica.

Dois centros comerciais que se assumem diferentes, mas onde os espaços religiosos são vistos pelas respectivas administrações como uma "mais-valia".
Nas Amoreiras, o padre Peter Stilwell dá missa quase todos os dias, cerca das seis horas da tarde. Além da Escola de Leigos, pela qual já passaram cerca de cinco mil alunos nestes últimos dez anos, abre-se espaço a orações de grupo e atendimento. Uma realidade semelhante à do Colombo, mas onde as missas apenas acontecem aos fins-de-semana.

Os domingos são os dias de maior afluência nas igrejas destes dois centros, mas há um movimento constante de pessoas que se recolhem por alguns minutos. A Igreja do Colombo já fez, pelo menos, um casamento e dois baptizados.

As capelas funcionam sobretudo como "um espaço de recolhimento, de pausa", explica ao JN Eduardo Vieira, director comercial do Colombo. Tanto são utilizadas por funcionários como por visitantes, ao final da tarde ou na hora de almoço. "Há sempre caras novas", garante o padre Peter Stilwell, da capela das Amoreiras.

Isaura Gonçalves é voluntária na Igreja do Colombo. Faz parte de um grupo de várias dezenas de mulheres que toma conta do espaço e recebe os fiéis. Revela que grande parte das pessoas que entra procura ali um abrigo para conversar ou reflectir. Isaura Gonçalves prefere a expressão "conversar" à palavra "desabafar", porque é "mais leve e mais abrangente". Por isso, afirma que uma das suas funções é de "ouvinte", em vez de "confidente".

Os idosos são aqueles que mais se recolhem diariamente. "Passeiam pelo centro e, depois, procuram aqui algum sossego. Saem daqui com um ar bem mais tranquilo", assegura a voluntária.
Fátima Crespo é uma frequentadora assídua da capela das Amoreiras. Reside na zona de Campolide e tem igrejas tradicionais perto de casa, mas prefere a do centro comercial, por ser "um espaço agradável e íntimo", que transmite paz. "Sinto-me melhor aqui. Sei que pode parecer um paradoxo. Entro e parece que estou noutro mundo", diz.

Nas Amoreiras, tal como no Colombo, onde os visitantes diários se contam aos milhares, há quem desconheça por completo a existência destes espaços. Contudo, a maioria dá pela presença das igrejas, mas nem a curiosidade os levou ainda a entrar.

É o caso de Maria Pimentel. "Venho muitas vezes às Amoreiras, mas nunca entrei na capela. Acho que a ideia de haver um espaço religioso muito boa e parece-me que é bastante frequentada", acrescenta. Alberto Torres, por exemplo, é funcionário nas Amoreiras há 11 anos e ainda não conhece a capela. Não tem nada contra, pelo contrário: "Acho bem que exista, porque é um sítio bom para descontrair e pensar na vida".

Inventar a senhora das Descobertas

"Virgem Santa Maria, rainha do Céu e da Terra, Senhora dos mares profundos, Vós que foste companheira extremosa dos que se aventuraram na descoberta de novas gentes (...) fazei surgir a civilização do amor, para que todos os homens se amem como irmãos, segundo os desígnios de Deus Pai. Ámen". É assim que começa e acaba a oração a Nossa Senhora das Descobertas, criada propositadamente para veneração na Igreja do Centro Colombo, construído sob o tema da expansão portuguesa.

A escultura de Nossa Senhora das Descobertas foi criada por José Pereira. Uma das características da imagem é a posição do seu manto, que faz lembrar os pontos cardeais. Uma santa diferente que costuma ser alvo de muita curiosidade para quem se desloca pela primeira vez à Igreja do Colombo.

"Muitas pessoas perguntam-me como surgiu a ideia do nome. Nós explicamos que o Colombo foi construído com o tema das Descobertas", explica ao JN Isaura Gonçalves, uma das voluntárias da Igreja, que pertence à paróquia de Benfica.

Uma das atracções da Igreja do Colombo é uma imagem de um Cristo de Marfim, muito antigo, datado do século XVIII, doado por um paroquiano.
Na capela do Centro Comercial das Amoreiras é venerada uma imagem antiga de Nossa Senhora da Conceição, a que muitos chamam vulgarmente Senhora das Amoreiras.


Fonte JN

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