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23.º Aniversário da Solene Inauguração do Pontificado de João Paulo II
2001-10-23 21:02:09

Em 16 de Outubro de 1978 foi eleito Papa João Paulo II. E em 22 do mesmo mês e ano foi investido solenemente na missão cujo vigésimo terceiro aniversário hoje celebramos.
Se pensarmos que o Papa completou 81 anos em 18 de Maio passado, não podemos deixar de sublinhar e admirar a perseverança e até o estranho vigor com que continua a desenvolver e a concretizar o seu programa evangelizador, missionário e ecuménico, no interior da Igreja e nas viagens pelo mundo.


Alguém se entregou à tarefa estatística de nos lembrar que com a recente viagem ao Cazaquistão e à Arménia João Paulo II fez a 95.ª viagem ao estrangeiro (a referência é Roma e a Itália) e a 15.ª viagem à Ásia. E antes de partir para o Cazaquistão o Papa pronunciara 3200 discursos em 126 dos 191 países do planeta, tendo dado 30 voltas ao mundo desde o início do Pontificado, portanto em 23 anos.
Celebrando nós em cada ano o pertinente aniversário do Pontificado do Papa, é natural que em cada celebração evoquemos os acontecimentos de maior actualidade e marca mais forte da actividade pontifícia. Se este critério parece óbvio na normalidade que ameaça ser rotineira, impõe-se, creio eu, neste 23.º aniversário em que somos tentados a perscrutar e assinalar a atitude e as palavras de João Paulo II. Desde já previno que vos convido a caminhar comigo ao encontro do Papa perante a tragédia de 11 de Setembro nos Estados Unidos e para o mundo, a viajar com o Papa nas duas últimas visitas pastorais ao Cazaquistão e à Arménia, e a ouvi-lo na abertura da X Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos.
1.º - Recebida a notícia da tragédia nos Estados Unidos o Papa recolheu-se, consternado e preocupado, em oração. E no dia seguinte reagia deste modo, com revolta, com fé e com esperança:
“Ontem foi um dia cinzento na história da Humanidade, uma terrível afronta à dignidade humana... Como podem verificar-se episódios de tão selvagem ferocidade? O coração do homem é um abismo do qual emergem às vezes desígnios de violência inaudita, capazes de num momento revolver a vida serena e laboriosa de um povo. Mas a fé vem ao nosso encontro nestes momentos em que qualquer comentário parece inadequado. A palavra de Cristo é a única que pode dar uma resposta às interrogações que se agitam no nosso ânimo. Se ainda a força das trevas parece prevalecer, o crente sabe que o mal e a morte não têm a última palavra. Aqui se apoia a esperança cristã; aqui se alimenta, neste momento, a nossa confiança orante” (Palavras ditas em 12 de Set.º - Oss. Rom. dia 13 Set.º).
No dia 13 de Setembro, ao receber o Embaixador dos Estados Unidos, que apresentava as Cartas credenciais, o Papa reafirmava como inalterável a sua missão, a missão da Igreja:
“No século há pouco iniciado, a humanidade terá a oportunidade de realizar grandes progressos contra os seus inimigos tradicionais: a pobreza, a doença, a violência. Como disse nas Nações Unidas em 1995, cabe-nos a nós fazer com que um século de lágrimas, o XX, seja seguido no século XXI de uma “primavera do espírito humano”. As possibilidades da família humana são imensas, se bem que não sejam sempre evidentes num mundo em que demasiados irmãos nossos e demasiadas irmãs sofrem de fome, de má nutrição e da impossibilidade de acesso à assistência médica e a instrução, ou então são afligidos por um governo injusto, por um conflito armado, por uma deslocação forçada ou por novas formas de escravatura” (Oss. Rom. 14 de Set.º 2001 - dito em 13 de Set.º ).
... e por isso viagens programadas vão concretizar-se: 1) No Cazaquistão, em 22 de Set.º: Apesar de todo o mundo ocidental ter ficado como que paralisado nas suas actividades e instituições, com o medo e a sensação de insegurança a invadir as pessoas, o Papa não cancelou as viagens programadas e por ele tão ansiadas pelo significado religioso e histórico. Aliás a atitude decidida do Papa terá aconselhado e conseguido uma trégua de reflexão nos países que se sentiram mais atingidos e por isso motivados para a retaliação.
À chegada ao Cazaquistão, o Papa falou da liberdade que importa tutelar e da liberdade religiosa a reconhecer como direito:
“Quando no interior de uma comunidade civil os cidadãos sabem aceitar-se nas respectivas convicções religiosas, é mais fácil que se afirme entre eles o reconhecimento efectivo dos outros direitos humanos e um entendimento sobre os valores fundamentais de uma convivência pacífica e construtiva. Sente-se assim a consciência de que são irmãos, porque filhos do mesmo Deus, Criador do Universo” (Oss. Rom. dia 23 Set.º).
E referiu-se aos acontecimentos terroristas nos Estados Unidos, nestes termos:
“Desejo fazer/lançar um caloroso apelo a todos, cristãos e seguidores de outras religiões (a que) para que cooperem para edificar um mundo sem violência, um mundo que ame a vida e se desenvolva com justiça e solidariedade... A religião não deve nunca ser utilizada como motivo de conflito”. E ao mundo da cultura: “Todos os crentes devem unir os seus esforços, para que nunca Deus se transforme em refém das ambições dos homens. O ódio, o fanatismo e o terrorismo profanam o nome de Deus e desfiguram a imagem autêntica do homem” (Oss. Rom. 24-25 Set.º).
2) Na Arménia: Unidade:
Da viagem à Arménia, onde o Papa foi alvo de um acolhimento particularmente amigo, destaco esta reflexão de um encontro/celebração ecuménica:
“Com um só coração contemplemos Cristo nossa paz, que uniu o que antes estava dividido (cf. Ef. 2,14). Na verdade, o tempo interpela-nos e o nosso é um dever sagrado e urgente. Devemos proclamar a Boa Nova da Salvação aos homens e às mulheres da nossa época. Depois de terem experimentado o vazio espiritual do comunismo e do materialismo, procuram o sentido da vida e da felicidade: têm sede de Deus” (Oss. Rom. dia 28 St.º - dito no dia 26 Set.º) – Celebração Ecuménica –
Regressado da viagem ao Cazaquistão e à Arménia, o Papa presidiu em 30 de Setembro, no Vaticano, à abertura da X Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, reunida para tratar deste tema central: “O Bispo servidor do Evangelho de Jesus Cristo para a esperança do mundo”.
Na homilia da Concelebração a que presidiu, o Papa definiu o Bispo como “pobre, servidor, profeta, intrépido, santo”. E assim falou do Bispo e da Igreja: “O Bispo é minister, servidor”. A Igreja está ao serviço do Evangelho. “Ancilla Evangelii”: assim poderia definir-se, parafraseando as palavras pronunciadas pela Virgem na anunciação do Anjo: “Ecce ancilla Domini” disse Maria. “Ecce ancilla Evangelii”, continua a dizer hoje a Igreja” (Oss. Rom. dia 1.2 Out.º)”. (n.º 2)
Sínodo
E na habitual recitação do “Angelus”, no mesmo dia, falando aos fiéis em geral, o Papa lembrava a tragédia provocada pelo terrorismo e afirmava a missão e dever da Igreja:
2.º - “A terrível tragédia do passado dia 11 de Setembro será recordada como um dia cinzento na história da humanidade. Perante isto a Igreja deseja ser fiel ao seu Carisma profético e chamar de novo todos os homens ao seu dever de construir um futuro de paz para a família humana. Certamente que a paz não está separada da justiça, mas deve ser sempre alimentada pela clemência e pelo amor. Não podemos deixar de recordar que hebreus, cristãos e muçulmanos adoram Deus como Deus único. As três religiões têm por isso a vocação para a unidade e para a paz” (Oss. Rom. 1-2 Out.º 2001).
Finalmente, no dia 11 de Outubro, a um mês dos acontecimentos que recordamos, o Papa, na sala Sinodal, presidia à seguinte oração com os Bispos:
“Que do coração do homem o Senhor desenraíze qualquer traço de inimizade e de ódio, e o torne disponível para a reconciliação, para a solidariedade e para a paz.
Rezemos para que em todo o mundo possa instaurar-se a “civilização do amor”...
Ó Deus omnipotente e misericordioso, não Te pode compreender quem semeia a discórdia, não Te pode acolher quem semeia a violência: protege a nossa dolorosa condição humana provada por ferozes actos de terror e de morte, conforta os teus filhos e abre os nossos corações à esperança, para que o nosso tempo possa ainda conhecer dias de serenidade e de paz” (Oss. Rom. dia 2 Out.º).
Ao celebrarmos, hoje e aqui, o 23.º aniversário do início solene do Pontificado de João Paulo II, cumpre-nos constatar a sua firmeza – “Tu es Petrus”, a sua missão como Vigário de Cristo e Cabeça visível da Igreja que convida ao perdão, à reconciliação e à paz. E pedir a Deus, segundo a prática constante da Igreja, que conserve a vida do Papa com o carácter intrépido e lúcido que lhe dá a autoridade moral para em tudo manifestar esperança e nos convidar a viver na Esperança com que iniciámos o terceiro milénio da era cristã.
Assim seja
Porto, 22 de Outubro de 2001
(D. Armindo Lopes Coelho)
Bispo do Porto

Fonte Ecclesia

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