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À PROCURA DA PALAVRA: DOMINGO VI DA PÁSCOA - Ano C
2007-05-09 22:33:11

"O Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome,
vos ensinará todas as coisas."
Jo 14, 26

Surdos voluntários?

Vivemos rodeados de ruído e poucos são os espaços públicos onde uma televisão com o volume bem alto não prende a atenção. São poucas as conversas que não são interrompidas pelo toque polifónico de um telemóvel. "Para não ouvir o mundo", são cada vez mais as pessoas que trazem nos ouvidos as colunas de som para ouvir música cada vez mais alta. Como aquela mãe que seguia pela rua com o filho pela mão, isolada no seu mundo "musical", indiferente àquilo que, de vez em quando a criança dizia, na esperança de ter a sua atenção! Podem os médicos alertar para os perigos de destes hábitos mas parece que persistimos em tornar-nos surdos voluntários.


Esta surdez acaba por manifestar-se na dificuldade de diálogo e de escuta mútua. Como reflectimos sobre o que vemos e ouvimos? Pelo ver e ouvir recebemos a maior parte da informação que precisamos escolher, "mastigar" e arrumar na nossa biblioteca interior (ou base de dados interna). É preciso educar o ver e o ouvir como bases fundamentais do pensamento. Eles são condição para a descoberta do nosso lugar no mundo, para a consolidação das escolhas, para o desenvolvimento da personalidade. Também lamento a desvalorização do ensino da filosofia no ensino secundário pois parece-me um empobrecimento nesta área de pensar a realidade e aprender a colocar questões. Mas, ao mesmo tempo, vejo surgir o interesse da filosofia para crianças em idades muito mais jovens e isso é um sinal de esperança.
Os primeiros cristãos cedo descobriram que Jesus não tinha deixado "manual de instruções". Confiara o Espírito Santo, mas isso não significava respostas escritas no céu. Foi preciso pensar e dialogar, procurar e rezar, para irem encontrando os caminhos mais identificados com a sua Boa Nova. Muitas vezes erraram, como nós, ainda hoje, principalmente quando ficavam surdos ao ensino do Espírito Santo. Mas quando acertavam iam descobrindo pela alegria e pelos sinais do amor de Deus essa presença viva de Jesus.
Cada tempo oferece desafios próprios ao Evangelho. As configurações e as estruturas das comunidades precisam estar ao serviço do apelo constante do Espírito Santo, presente na realidade.Ele fala-nos de dentro da vida. Por isso é tão importante ver e ouvir, andar de olhos e ouvidos bem abertos para captar os anseios e esperanças deste mundo que Deus ama. Como os pastorinhos que foram capazes de ouvir aquela senhora vestida de sol em Fátima há 90 anos. O perigo de uma surdez voluntária é criarmos dentro da cabeça um mundo que não existe. Será que não precisamos de consultar o "bom otorrinolaringologista" que Deus também é?

P. Vitor Gonçalves


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