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Artigo de opinião 2006-10-11 22:07:21 O Ocidente mergulhava na discussão estéril sobre o sentido de um texto do século XIV, citado por um Papa intelectual. O "mundo islâmico" - expressão redutora e induzida pela intolerância emergente… como se o mundo não fosse um só - aparecia nos jornais e televisões a queimar "espantalhos" e bandeiras.
O "tsunami" religioso inundou preocupações e conversas. Ainda não se contabilizaram os danos desta inesperada "salinização" de terras férteis em diálogo. Mas é de supor que nada será como dantes no diálogo entre culturas e religiões. O que se faz com o uso - e abuso - de meia dúzia de palavras perdidas na memória das "cátedras"…
Na mesma altura, despercebida da opinião pública, consumida pela voracidade editorial da estonteante actualidade, como acontece com tantos outros acontecimentos que podiam mobilizar esperanças e cativar vontades, a revista CAIS - aquela publicação que é distribuída por cidadãos "sem abrigo" dos quais, com pressa ou indiferença, fugimos para evitar incómodos - despedaçou, por feliz coincidência, a incoerência de manipuladores e manipulados em guerras insólitas. O número de Setembro da CAIS é constituído por artigos de opinião e fotos de vários jornalistas e repórteres fotográficos portugueses que, directa ou indirectamente, fazem uma reflexão sobre a… Paz.
A revista quis assinalar assim mais um Dia Internacional pela Paz, que passou no calendário sem qualquer eco relevante na comunicação social.
Aparentemente, nada de novo ou estimulante. Mas trata-se de um testemunho invulgar e arrojado de uma revista que, na linha editorial da luta pela dignidade e direitos do homem, pensa o ser humano como um todo. A Paz carece de um debate inclusivo. Começa na relação directa, quando o "próximo" deixa a comodidade do abstracto e ganha uma vida concreta. Um cidadão "sem abrigo", que procura um novo rumo para a vida, a distribuir uma revista que medita sobre a Paz é um sinal de surpreendente lucidez. A felicidade desta publicação da Associação CAIS está nas "guardas" da opção, mais que nas linhas do conteúdo. Se o humilde contributo de um punhado de jornalistas serviu para reforçar minimamente este debate, melhor ainda… ganha-se mais uma batalha importante pela ética da comunicação.
Joaquim Franco
Jornalista
opiniao@sic.pt
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