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Ratzinger fez cartilha secreta para "ocultar crimes sexuais
2006-10-03 22:42:56

Um documento secreto do Vaticano, elaborado pelo então cardeal Joseph Ratzinger, o actual Papa, terá sido utilizado durante 20 anos para instruir os bispos católicos sobre a melhor forma de ocultar e evitar acusações judiciais em caso de crimes sexuais contra crianças.

Segundo a BBC, que ontem divulgou a existência desta cartilha num programa televisivo intitulado Crimes sexuais e o Vaticano, o documento de 39 páginas, escrito em latim em 1962 e distribuído pelos bispos católicos de todo o mundo, impõe um pacto de silêncio entre a vítima menor, o padre que é acusado do crime e quaisquer testemunhas ou pessoas a par do ocorrido. Quem quebrasse esse pacto seria excomungado pela Igreja Católica.

Crimen Sollicitationis terá sido mantido no segredo da hierarquia católica durante todos estes anos, marcado como altamente confidencial. Fornece elementos detalhados, segundo a BBC, sobre como proceder em caso de "crime de solicitação de actos obscenos, por palavra ou gestos, no quadro da confissão" - mas também sempre que se verifique "qualquer acto obsceno externo (...) com crianças de ambos os sexos". Os críticos garantem que o documento servia apenas para evitar a eficácia de qualquer acusação judicial por crimes sexuais - e também para silenciar as vítimas.

Os representantes britânicos da Igreja Católica reagiram imediatamente, acusando a reportagem da BBC de ser "falaciosa" e garantindo que o documento não se refere a eventuais actos de pedofilia por parte dos padres, mas apenas ao "uso impróprio do confessionário". Esse aspecto da reportagem do programa Panorama é assim classificado como "completamente falso" pelo arcebispo de Birmingham, Vincent Nichols, que assumiu falar em nome do prelado de Inglaterra e do País de Gales. A BBC "deforma dois documentos do Vaticano e utiliza-os de forma enganadora, ligando o horror do abuso de crianças à figura do Papa", acrescentou o arcebispo. O programa Panorama garante ter encontrado sete padres acusados de abuso sexual de menores que vivem dentro ou perto da cidade do Vaticano - um deles com 13 acusações feitas por um júri dos EUA, sem que tivesse sido aconselhado pela hierarquia católica a regressar àquele país para ser julgado.

Maria José Margarido

Fonte DN

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