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Os caminhos da paz na Terra Santa
2004-02-03 19:26:14

Pela convivência pacífica entre cristãos, judeus e muçulmanos,
na Terra Santa.

1. Na Palestina, a religião tem um papel único, pela singularidade de que se revestem aqueles poucos quilómetros quadrados para os crentes das três grandes religiões monoteístas – aquela é a Terra Prometida para os judeus, promessa que mergulha no mais fundo da história e na revelação do Deus único a Abraão;


é a Terra Santa para os cristãos, santificada pela vida, morte e ressurreição de Jesus, o Filho de Deus feito homem; e é particularmente querida aos muçulmanos, pois em Jerusalém está a mesquita que assinala a rocha sobre a qual estava Maomé quando ascendeu ao Céu. Esta singularidade é, talvez, a razão última por que aquela terra tem sido tão desejada ao longo dos séculos: conquistada e perdida pelo povo de Israel, este nunca esqueceu a Promessa e, mesmo na diáspora, vivia sempre na esperança do regresso a Jerusalém; disputada por cristãos e muçulmanos, ao longo de séculos, deu origem a um dos fenómenos mais tipicamente medievais, na Europa: as cruzadas; regressada, em parte, à posse do povo judeu, depois da 2ª Guerra Mundial, tornou-se de novo motivo de conflitos, que se traduziram em três guerras entre Israel e os países árabes vizinhos; e mantém-se como uma região onde a violência terrorista é constante e o risco de guerra em larga escala nunca está longe do horizonte.

2. Actualmente – como aconteceu ao longo dos séculos – judeus, cristãos e muçulmanos vivem na Palestina. Mas, devido às paixões humanas e aos mal-entendidos históricos, estão longe de uma convivência pacífica. Pelo contrário, as diferenças religiosas têm assumido um papel significativo na violência que ensanguenta a Palestina. Não é essa, certamente, a vontade do Deus único, bom e justo, que judeus, cristãos e muçulmanos adoram – na verdade, usar a fé em Deus como pretexto para a violência e o ódio contradiz o próprio Deus e é fruto dos ídolos que os crentes fabricam para si mesmos. É, por isso, urgente que os crentes se convertam dos seus ídolos a Deus e se tornem, assim, promotores da verdadeira paz, aquela que é dom de Deus e edificação dos homens – só deste modo farão justiça à sua condição de crentes e prestarão a Deus o culto que Lhe é devido.

3. João Paulo II não se tem cansado de exortar os crentes das três religiões monoteístas a empreenderem este caminho de diálogo e reconciliação. E tem-se empenhado em promover iniciativas que testemunhem o compromisso da Igreja Católica no diálogo com judeus e muçulmanos. Uma das mais recentes foi o «Concerto da Reconciliação», no dia 17 de Janeiro, no Vaticano. Na ocasião, dirigindo-se aos presentes, entre os quais se contavam significativas delegações de rabinos judeus e clérigos muçulmanos, afirmou o Papa: «O judeu honra o Omnipotente como “protector da pessoa humana” e Deus das “promessas de vida”. O cristão sabe que o amor é o motivo pelo qual Deus se relaciona com o homem e que o amor é a resposta que se espera do homem. Para o muçulmano, Deus é bom e concede ao crente a sua misericórdia. Apoiados nestas convicções, judeus, cristãos e muçulmanos não podem aceitar que a terra seja afligida pelo ódio, que a humanidade permaneça transtornada por guerras sem fim.
Sim! Temos que encontrar em nós a coragem da paz. Temos que implorar do Alto o dom da paz. E esta paz espalhar-se-á como o azeite, se percorrermos sem descanso o caminho da reconciliação. Então o deserto converter-se-á num jardim onde reinará a justiça e o resultado da justiça será a paz (cf. Is 32, 15-16)».

4. Na Terra Santa para judeus, cristãos e muçulmanos, a paz é possível e será fruto da justiça. E a paz acontecerá, se os crentes das três religiões mono-teístas se empenharem verdadeiramente na busca de uma convivência pacífica que, sem renegar a fidelidade às suas tradições religiosas, seja, antes de mais, sinal da sua fidelidade a Deus, pai comum e fonte de paz para todos.

Elias Couto

Fonte Ecclesia

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