2. Como rezar?
São Paulo escreveu: “Não sabemos como rezar, mas o Espírito reza em nós”.
Eis a chave para compreender o verdadeiro sentido da oração cristã.
Ele refere-se assim à oração profunda do coração, onde encontramos
“o amor de Deus disperso nas profundezas do nosso coração pelo Espírito Santo
que Ele nos deu”.
A questão é saber como nos podemos abrir a essa torrente de
amor que atinge o mais “profundo do nosso ser”?
Consideremos, em primeiro lugar, os três elementos essenciais
da oração contemplativa. Eles dão a resposta à pergunta “como rezar”. Rezamos
ficando silenciosos, despertos e descontraídos.
1. O Silêncio
O silêncio é necessário, tanto para a nossa saúde mental, como
para o nosso crescimento espiritual. Contudo, torna-se cada vez mais difícil
de praticar o silêncio no centro das cidades modernas, no barulho da circulação,
da rádio e da televisão.
Mas o verdadeiro silêncio é interior. Com efeito, se nos
encontramos num lugar muito barulhento e se nos concentrarmos, podemos “fazer”
o silêncio em nós. Aprendemos a estar em silêncio ao nos concentrarmos.
Nada nos impede de estar em silêncio numa rua movimentada,
no congestionamento do trânsito ou numa fila de espera na caixa do supermercado.
Aprender o silêncio, ensina-nos a rezar em qualquer situação.
O silêncio é verdade. O silêncio é cura. O silêncio pacifica
as nossas perturbações interiores. O silêncio é o remédio para o azedume e a
raiva.
No silêncio aprendemos a linguagem do Espírito. Deus difunde
a sua palavra do seu silêncio infinito.
O silêncio na oração, como entre duas pessoas, é um sinal de
confiança e de aceitação.
Não se trata apenas de uma ausência de ruído, pois o silêncio
é uma questão de atitude e de disposição de viver em vigilância e quietude.
2. A Quietude
O salmo diz: “Aquietai-vos e sabei que eu sou Deus”
Sl 46,2. A quietude não significa um estado de inércia ou de morte.
A quietude constitui o equilíbrio de todas as forças e energias
diferentes de um ser humano: o físico, o mental, o espiritual.
Tal como o silêncio, a quietude tem as mesmas dimensões interiores
e exteriores. Na oração devemos alcançar a imobilidade do corpo. É esse o primeiro
passo da nossa peregrinação em direcção a Deus, ao centro do nosso ser.
A imobilidade física ajuda-nos a tomar consciência de que o
nosso corpo é sagrado: “templo do Espírito Santo”.
Porém, a outra dimensão da quietude é interior. Alcançar a imobilidade
do espírito constitui o grande desafio da oração. Como nos podemos acomodar
à constante actividade mental? Os budistas afirmam que se efectuam 151 operações
mentais em simultâneo… Os nossos desejos, os nossos sonhos, as nossas esperanças
podem dividir e dominar o nosso espírito.
3. A Simplicidade
A oração cristã desperta-nos para a realidade de que
somos habitantes do Reino de Deus. Jesus revelou-nos que o Reino de Deus está
dentro de nós e que também nos devemos tornar como crianças, se quisermos entrar
no Reino. “O Reino não é um lugar, mas sim uma experiência” (John Main).
Ser simples, não é fácil. Analisamo-nos constantemente. Analisamos os nossos
sentimentos, o que nos motiva, as outras pessoas e esta atitude constante de
nos dobrarmos sobre nós próprios, torna-nos muito complicados.
Mas Deus é simples – o amor é simples – a meditação
é simples.
Ser simples significa, ser autêntico, ou seja, ir
para além da consciência de si próprio e da auto-análise.
A meditação é uma prática espiritual universal que
nos guia em direcção a esse estado de oração, à oração de Cristo.
Essa oração conduz-nos ao silêncio, à quietude e à
simplicidade por um processo, também ele, silencioso, pacificador e simples.
Este processo é a repetição de uma breve palavra sagrada,
na fé e no amor, ao longo do tempo de meditação. Essa palavra chama-se mantra.
Esta forma antiga de oração cristã foi redescoberta pelo monge beneditino
John Main (1926-1982) para cristãos dos tempos modernos.
John Main redescobre este processo de unir o coração,
a partir do ensinamento dos primeiros monges cristãos, os Padres do Deserto,
principalmente de João Cassiano (séc. IV A.D.). Este ensinamento
vai na mesma tradição de “A Nuvem do Não-Saber”, publicado em Inglaterra
no séc. XIV.
O Frei John ensina-nos que para meditar devemos:
- Sentarmo-nos e permanecermos quietos, de costas bem direitas;
- Fechar os olhos
- Repetir a palavra mantra interiormente e de forma contínua.
Deve-se escolher um lugar calmo, um momento de tranquilidade
de manhã e à noite e meditar aproximadamente 20 a 30 minutos de cada vez.
Um mantra ideal é maranatha, uma antiga
oração oriunda do aramaico. Repeti-la continuamente, apoiando igual e claramente
cada uma das sílabas. Dizê-la pausadamente e sem nada esperar. Escutar o mantra com todo o nosso ser.
Assim que surja uma distração, retomar o mantra calmamente.
O aramaico era a língua de Jesus. É a mesma língua
da palavra “abba”. “Maranatha” é a oração cristã mais antiga,
que significa “Vem Senhor” ou “o Senhor vem”. São Paulo termina a primeira epístola
aos Coríntios e São João, o livro do Apocalipse, com esta frase, que exprime
a fé profunda e simples dos primeiros cristãos.
O significado e a ressonância desta palavra são dois elementos
importantes. Contudo, ao dizer a palavra mantra, não se deve pensar no
seu significado. O mantra conduz-nos de forma mais profunda do que os
nossos pensamentos, ao âmago do nosso ser. Leva-nos através da fé. Dizemos o
mantra na fé e no amor.
Eis três regras que nos ajudarão a persistir:
- Não ter nenhum pedido ou expectativa;
- Não avaliar a nossa meditação;
- Integrar a meditação na nossa vida do quotidiano e viver cada dia as suas consequências.
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